20/04/2016

Pessoas, estereótipos e prateleiras de supermercado

Primeira impressão

Será que a primeira impressão que temos sobre alguém é sempre, realmente, a que fica? Temos a tendência a formular teorias sobre como é ou deixa de ser qualquer um que acabamos de conhecer, baseados em nossos estereótipos¹. Rotulamos sem cerimônia tudo e todos à nossa volta de acordo com o juízo de valores baseados em nossa percepção pessoal, social, cultural...
- E isto é negativo ou positivo?
- Depende...
E depende não apenas se a sua avaliação foi positiva ou negativa, mas também de como você vai reagir a ela. Explico: Ter uma opinião inicial sobre alguém é aceitável e até mesmo necessário, afinal nós somos frutos de tudo o que vivemos até hoje e, conforme vamos vivendo, vamos internalizando as nossas experiências e formando conceitos para utilizá-los quando precisamos, em situações futuras... Isto permite que nos defendamos caso o momento envolva risco ou ajamos mais relaxadamente quando nos sentimos confiantes. Pessoas paradas em becos escuros acendem o alerta de perigo e um policial parado em uma esquina traz segurança, por exemplo. Tudo bem você simpatizar com o policial e antipatizar com o cara do beco. :)
O que pode causar um problema na rotulação de pessoas é a cristalização destes rótulos.

Vidro de Azeitonas

Os seres humanos não são vidros de azeitonas expostos na prateleira do supermercado.
A pessoa equilibrada reflete sobre a avaliação inicial, não se prendendo ao rótulo previamente "colado" pelos pensamentos automáticos daquele primeiro encontro. Vão conhecendo aos poucos a pessoa e formando novas opiniões. Acontece que, muitas vezes, nós apenas utilizamos da convivência com as pessoas para reafirmar aquela primeira impressão: desprezamos comportamentos que não se adequem a ela ou então deturpamos o modo como as vemos (não conscientemente, claro!). Se julgamos uma pessoa “burra”, por exemplo, ela pode dizer 1522 frases inteligentes, na 1523ª ela dá uma “escorregada” e dizemos:
- Tinha que ser fulano... burro como é!
E ainda há mais um viés a ser analisado em relação à rotulação: ninguém é uma coisa só. Não importa o que está escrito no rótulo que você, ou que eu mesma, me coloquei...
Hoje eu estou me sentindo como um vidro de azeitonas, amanhã posso ser milho verde, ou um queijo frescal, arroz, feijão ou iogurte. Não seria saudável que alguém fosse, sentisse e agisse sempre igual o tempo todo. A rigidez de pensamento, também faz mal... O que se espera que mantenhamos uma coerência, mas dom equilíbrio. 
Ser “normal” o tempo todo seria “anormal”. 

Cada um é um

Já lidei com muitas pessoas com problemas mentais, desnorteadas e até mesmo agressivas. Mas será que podemos reduzi-las a isso? Com certeza, não. 
Bem que eu gostaria de afirmar com toda a certeza do mundo que eu sou sempre boa, inteligente, amável, carinhosa, caridosa (enfim um ser perfeito ;-) o tempo todo...
Vivemos na ilusão de sabermos como o outro é. De como nós somos. e isto pode ser muito limitante. Julgar uma pessoa pelo grupo ao qual pertence, pela cor da sua pele, pela sua orientação sexual, peso ou por  um determinado comportamento  pode às vezes ser mais fácil do que tentar conhecer o ser humano que está por detrás do rótulo. Mas, com certeza vale a pena investir na coragem de conhecer o que está por trás do rótulo. Somente assim poderemos usufruir da riqueza que cada ser humano carrega dentro de si.



¹ Percepção ou concepção relativamente rígida e esquemática de um aspecto da realidade, especialmente de grupos ou pessoas. (Dicionário Técnico de Psicologia – Álvaro Cabral e Eva Nick, p. 114)



*As informações contidas nesta publicação não substituem a avaliação de um profissional da área da saúde mental.