Quando
conversamos com as pessoas sobre o que é ser psicólogo todos lembram logo do
psicólogo clínico. Que é aquele que aparece mais nos filmes, livros e
novelas... Mas o psicólogo pode atuar também nas empresas, escolas, no esporte,
no setor jurídico e em várias outros lugares. Na área da Saúde, fazemos
atendimento terapêutico nos mais diferentes contextos, realizando diagnóstico
psicológico nas Unidades Básicas de Saúde, atuando em ambulatórios, hospitais
e, claro, na clínica psicológica. O ideal seria que trabalhássemos com equipes
multidisciplinares, mais buscando a prevenção do que o tratamento das formas já
instaladas de problemas psicológicos. Para tanto seria desejável que
implementássemos mais programas de pesquisa, treinamento e desenvolvimento de
políticas de saúde mental* e participássemos da sua elaboração, coordenação,
implementação e supervisão, tanto em nível de macro quanto de microssistema. É
aí que os Conselhos Regionais de Psicologia buscam atuar, junto às comunidades
e às autoridades, para que este ideal se concretize em realidade... E, claro,
na fiscalização do trabalho dos psicólogos. É no CRP que você pode reclamar ou
tirar alguma dúvida sobre os procedimentos realizados pelo (a) seu (sua)
psicólogo (a). Todo Psicólogo deve ser registrado junto ao Conselho Regional da
sua área de atuação (os CRPs).
A
atuação na clínica
A maioria dos psicólogos,
notadamente, atua em consultório, no atendimento clínico ao paciente.
Independente a abordagem que adote (Freudiana, Junguiana, Cognitiva,
Comportamental, Gestalt ou Humanista), deve ficar claro que psicólogo não faz
aconselhamento. Ele não dá comandos ao paciente sobre o que fazer ou não. Na
clínica a sua escuta será acolhedora, procurando encontrar um sentido no que é
dito verbalmente e no que não é dito, mas expresso inconscientemente pelo
paciente e que lhe traz sofrimento. Através da análise destes dados, fornecidos
pelo paciente, o psicólogo irá se utilizar das técnicas inerentes à sua linha
de trabalho para ajudá-lo a encontrar dentro si mesmo as respostas que
necessita. O objetivo de toda boa terapia é que chegue o dia em que o paciente
consiga ser seu próprio terapeuta e consiga essas respostas sem a ajuda do
psicólogo.
A
atuação do CFP e o Código de Ética
Referente à fala e escuta do
profissional na clínica é bom destacar alguns trechos específicos: Consta que é
vedado ao psicólogo **“Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais,
ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de
preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais”. Ou seja, os
valores e crenças do cliente, de qualquer ordem, têm que ser respeitados e
considerados como prioridade na prática clínica. Isto não significa concordar
com tudo. É possível, sim, auxiliar a pessoa sobre as consequências sociais de
suas crenças e atos, mas nunca tentar “convertê-la” a pensar ou agir de acordo
com as convicções do psicólogo ou do que ele acha como correto.
Além disso o Código de Ética
também preconiza que o psicólogo não poderá **“induzir qualquer pessoa ou
organização a recorrer a seus serviços”, o que significa que ele não deve, em
sua prática clínica, prometer determinado resultado ou oferecer brindes ou
descontos para convencer o cliente a fazer terapia com ele. O profissional não
pode, por exemplo, oferecer um desconto no preço da consulta do paciente atual,
por cada cliente novo que ele lhe indicar, ou então, prometer que “a sua
terapia” vai curar a depressão do cliente em 10 ou 12 sessões.
O psicólogo também não pode **“estabelecer
com a pessoa atendida, familiar ou terceiro, que tenha vínculo com o atendido,
relação que possa interferir negativamente nos objetivos do serviço prestado”,
com o que entendemos que o profissional deve sempre atentar, não apenas à sua
fala, como também na sua conduta geral, para o bem-estar do cliente. A fala do
psicólogo é aquela que tem por finalidade proteger e zelar pela pessoa
atendida, seja quando se dirigir a ela ou a qualquer pessoa a ela ligada. E
fica patente esta característica de priorização do cliente na fala do psicólogo
quando o Código de Ética diz, no que **“é dever do psicólogo respeitar o sigilo
profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das
pessoas, grupos ou organizações a que tenha acesso no exercício profissional. ”
Sendo assim, o psicólogo só poderá falar do atendimento ao seu cliente com
outra pessoa se for imprescindível para manter o bem-estar de seu cliente e
somente aquilo que for estritamente necessário.
O
respeito ao paciente, antes de tudo
Mas além de qualquer coisa, o (a) psicólogo (a) que
respeita o seu paciente, leva em conta o que disse Jung: “Conheça todas as teorias, domine todas as
técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” Afinal,
a escuta e a fala do (a) profissional de psicologia (não apenas) na clínica deve estar plena de
consciência e intencionalidade, visando que suas intervenções sejam sempre no
sentido de que o cliente adquira sua autonomia psíquica e consequente
bem-estar.
*RESOLUÇÃO CFP Nº 02/01
**Código de Ética do Psicólogo: http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-psicologia.pdf
***A grosso modo falando, sem pretensões de
definição científica.
Texto
redigido pelas psicólogas Edith V C Andrade (CRP 05/49017) e Norma Suely
Bezerra (CRP 05/49045).